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To Love-Ru Darkness 3: Onde as Estrelas se Dissolvem
Escrita por: Matheus Leandro (Magnatah)
Capítulo 8 - Sombras na Luz do Luar
No Capítulo Anterior...
Rito já estava próximo da saida da mansão, quando Oshizu correu até ele, impulsiva:
"Visite-nos, Rito-kun! Ou... ou eu levo mais onigiri na escola!"
Ele acenou, o luar iluminando seu sorriso antes que desaparecesse na noite. Dentro do quarto, Mikado observava a janela, o dedo sobre a própria bochecha onde seus lábios tinham tocado:
"Liberdade é assustadoramente atraente, não é, Tea?"
Tearju não respondeu. Ainda sentia o calor do beijo – e a inquietante percepção de que aquele "filtro" ausente... talvez tornasse Rito mais real do que qualquer um deles.
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O ar fresco da noite que envolveu Rito ao sair dos portões imponentes da Mansão Mikado foi mais do que uma simples mudança de temperatura; foi um banho de normalidade. Após passar um mês fugindo da Darkness, o mundo exterior parecia surpreendentemente… pacífico.
"Ufa… finalmente um pouco de paz" murmurou Rito, ajustando a mochila no ombro com um movimento fluido que ele ainda não se acostumara. Seus músculos respondiam com uma obediência e potência que eram estranhas, mas inegavelmente agradáveis. O caminho planejado era simples: atravessar algumas ruas e pegar o ônibus para casa. Ele ansiou pelo silêncio previsível de seu quarto, longe do caos aromatizado e perfume exótico que permeava a mansão.
Optou por uma rota menos convencional, uma rua lateral flanqueada por pequenos comércios cujas persianas metálicas já estavam fechadas. A luz do luar alongava as sombras. A calmaria, no entanto, foi dilacerada como um véu frágil quando ele passou pela boca escancarada de um beco estreito, espremido entre dois prédios antigos cujas paredes sujas contavam histórias de abandono. A luz da lua não ousava penetrar profundamente naquela fenda urbana, criando um poço de trevas que parecia sugar o próprio ar. E de lá, como um grito abafado pela escuridão, veio o som.
"Me solta! Já disse que não quero ir com você!"
O sangue de Rito gelou instantaneamente em suas veias. Cada fibra do seu ser reconheceu aquela voz, distorcida pelo pânico e uma raiva crua, mas inconfundível. Mio Sawada. Não a Mio provocadora da sala de aula. Era a voz de uma garota encurralada, lutando contra um terror primordial.
O instinto tomou conta antes mesmo que um pensamento coeso pudesse se formar. O cansaço, a ânsia por paz, a promessa de casa – tudo evaporou-se como neblina ao sol. Algo vil ameaçava Mio Sawada. Seu corpo reagiu sozinho. Girou sobre os calcanhares com uma agilidade felina que faria Yami arquear uma sobrancelha e mergulhou na boca do beco, os olhos se ajustando à penumbra com velocidade sobre-humana.
A cena que se desenrolou diante dele foi um soco no estômago. Mio, seu uniforme escolar amarrotado e sujo, era arrastada com violência por um homem. Ele era alto, esquelético, com músculos tensos como cordas sob a pele dos braços nus. – destacados por uma camiseta de mangas curtas rasgada – falavam de uma força sinistra e treinada. Seu rosto era uma máscara de ângulos afiados, pele marcada, olhos pequenos e escuros como botões de ódio, fixos em Mio com uma possessividade doentia. A intenção lasciva, o desejo de subjugar e possuir, emanava dele como um miasma. Ele tem algum plano pervertido… e horrível. A conclusão perfurou a mente de Rito com a frialdade de uma adaga. Não era um assalto. Era algo infinitamente mais obsceno.
Mio lutava como uma fera encurralada, tentando cravar os tênis no asfalto oleoso e cheio de detritos, mas o homem era uma montanha de músculos retorcidos. Seus olhos, normalmente tão cheios de fogo e desafio, estavam arregalados, o branco dominando a íris, refletindo um terror puro e absoluto que Rito nunca imaginara ver neles.
"Não ouse abrir a boca de novo." O rosnado do homem era áspero, gutural, como pedras sendo arrastadas. Ele a puxou com um solavanco brutal, quase a levantando do chão, arrastando-a mais fundo na escuridão consumidora. "Não faça barulho se não quer se machucar feio!"
Foi então que Rito viu o movimento. Frustrado pela resistência desesperada de Mio e pelo grito estridente que ela soltara, o homem liberou seu braço por um milésimo de segundo. Seu rosto, uma caricatura de fúria, contorceu-se. O braço livre ergueu-se, a mão aberta se transformando em um punho nodoso, ossudo, carregado de ódio e intenção de quebrar. "CALA ESSA BOC-!"
"PARE!" A palavra não foi um grito, foi um trovão. Uma detonação de pura vontade que explodiu da garganta de Rito, reverberando nas paredes estreitas do beco, fazendo até o agressor estremecer por uma fração de segundo.
Dois pares de olhos se voltaram para ele. O terror em Mio foi momentaneamente eclipsado por um lampejo de esperança incrédula, tão intenso que parecia iluminar seu rosto pálido. "Y-Yuuki?!"
O agressor, porém, apenas revirou os olhos com um desdém venenoso. "Vaza, pirralho de merda! Isso não é brincadeira de criança!" Ele cuspiu as palavras, descartando Rito como um incômodo insignificante. Seu foco voltou-se furiosamente para Mio, o braço já em movimento descendente, um arco brutal destinado a silenciá-la de uma vez por todas, a força suficiente para fraturar.
Não houve tempo para estratégia, apenas para ação pura. Impulsionado por uma onda de fúria glacial e protetora que anulou qualquer vestígio de sua antiga hesitação, Rito se lançou. Dois passos largos, poderosos, impulsionados por pernas que agora abrigavam uma força desconhecida. Ele não atacou com um soco. Seu braço direito disparou como um pistão, a mão aberta transformando-se em uma garra de aço. Fechou-se com precisão cirúrgica em torno do pulso do homem, exatamente no momento em que o punho atingia o ápice de seu arco destrutivo, a centímetros do rosto aterrorizado de Mio.
O impacto foi visceral. Um CRACK! seco, nítido como o estalar de um galho grosso, ecoou no beco confinado. Seguiu-se um grito agudo de dor, um som animal e desesperado que rasgou o ar. Rito não havia golpeado; ele havia parado o braço em pleno movimento, congelando-o no ar. A força que emanou de seu aperto foi tão repentina, tão avassaladora, que fez o homem dobrar-se para a frente como um fantoche com os fios cortados, o rosto uma máscara grotesca de choque e agonia indescritível. Sua mão, agora inerte e trêmula, pendia inútil.
"Se afaste dela!" A voz de Rito era baixa, mas carregada de uma autoridade de aço, uma vibração profunda que parecia fazer o ar tremer. O frio de sua raiva contrastava com o calor da adrenalina que queimava em suas veias. "Ela. Já. Disse. NÃO!"
Rito já estava próximo da saida da mansão, quando Oshizu correu até ele, impulsiva:
"Visite-nos, Rito-kun! Ou... ou eu levo mais onigiri na escola!"
Ele acenou, o luar iluminando seu sorriso antes que desaparecesse na noite. Dentro do quarto, Mikado observava a janela, o dedo sobre a própria bochecha onde seus lábios tinham tocado:
"Liberdade é assustadoramente atraente, não é, Tea?"
Tearju não respondeu. Ainda sentia o calor do beijo – e a inquietante percepção de que aquele "filtro" ausente... talvez tornasse Rito mais real do que qualquer um deles.
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O ar fresco da noite que envolveu Rito ao sair dos portões imponentes da Mansão Mikado foi mais do que uma simples mudança de temperatura; foi um banho de normalidade. Após passar um mês fugindo da Darkness, o mundo exterior parecia surpreendentemente… pacífico.
"Ufa… finalmente um pouco de paz" murmurou Rito, ajustando a mochila no ombro com um movimento fluido que ele ainda não se acostumara. Seus músculos respondiam com uma obediência e potência que eram estranhas, mas inegavelmente agradáveis. O caminho planejado era simples: atravessar algumas ruas e pegar o ônibus para casa. Ele ansiou pelo silêncio previsível de seu quarto, longe do caos aromatizado e perfume exótico que permeava a mansão.
Optou por uma rota menos convencional, uma rua lateral flanqueada por pequenos comércios cujas persianas metálicas já estavam fechadas. A luz do luar alongava as sombras. A calmaria, no entanto, foi dilacerada como um véu frágil quando ele passou pela boca escancarada de um beco estreito, espremido entre dois prédios antigos cujas paredes sujas contavam histórias de abandono. A luz da lua não ousava penetrar profundamente naquela fenda urbana, criando um poço de trevas que parecia sugar o próprio ar. E de lá, como um grito abafado pela escuridão, veio o som.
"Me solta! Já disse que não quero ir com você!"
O sangue de Rito gelou instantaneamente em suas veias. Cada fibra do seu ser reconheceu aquela voz, distorcida pelo pânico e uma raiva crua, mas inconfundível. Mio Sawada. Não a Mio provocadora da sala de aula. Era a voz de uma garota encurralada, lutando contra um terror primordial.
O instinto tomou conta antes mesmo que um pensamento coeso pudesse se formar. O cansaço, a ânsia por paz, a promessa de casa – tudo evaporou-se como neblina ao sol. Algo vil ameaçava Mio Sawada. Seu corpo reagiu sozinho. Girou sobre os calcanhares com uma agilidade felina que faria Yami arquear uma sobrancelha e mergulhou na boca do beco, os olhos se ajustando à penumbra com velocidade sobre-humana.
A cena que se desenrolou diante dele foi um soco no estômago. Mio, seu uniforme escolar amarrotado e sujo, era arrastada com violência por um homem. Ele era alto, esquelético, com músculos tensos como cordas sob a pele dos braços nus. – destacados por uma camiseta de mangas curtas rasgada – falavam de uma força sinistra e treinada. Seu rosto era uma máscara de ângulos afiados, pele marcada, olhos pequenos e escuros como botões de ódio, fixos em Mio com uma possessividade doentia. A intenção lasciva, o desejo de subjugar e possuir, emanava dele como um miasma. Ele tem algum plano pervertido… e horrível. A conclusão perfurou a mente de Rito com a frialdade de uma adaga. Não era um assalto. Era algo infinitamente mais obsceno.
Mio lutava como uma fera encurralada, tentando cravar os tênis no asfalto oleoso e cheio de detritos, mas o homem era uma montanha de músculos retorcidos. Seus olhos, normalmente tão cheios de fogo e desafio, estavam arregalados, o branco dominando a íris, refletindo um terror puro e absoluto que Rito nunca imaginara ver neles.
"Não ouse abrir a boca de novo." O rosnado do homem era áspero, gutural, como pedras sendo arrastadas. Ele a puxou com um solavanco brutal, quase a levantando do chão, arrastando-a mais fundo na escuridão consumidora. "Não faça barulho se não quer se machucar feio!"
Foi então que Rito viu o movimento. Frustrado pela resistência desesperada de Mio e pelo grito estridente que ela soltara, o homem liberou seu braço por um milésimo de segundo. Seu rosto, uma caricatura de fúria, contorceu-se. O braço livre ergueu-se, a mão aberta se transformando em um punho nodoso, ossudo, carregado de ódio e intenção de quebrar. "CALA ESSA BOC-!"
"PARE!" A palavra não foi um grito, foi um trovão. Uma detonação de pura vontade que explodiu da garganta de Rito, reverberando nas paredes estreitas do beco, fazendo até o agressor estremecer por uma fração de segundo.
Dois pares de olhos se voltaram para ele. O terror em Mio foi momentaneamente eclipsado por um lampejo de esperança incrédula, tão intenso que parecia iluminar seu rosto pálido. "Y-Yuuki?!"
O agressor, porém, apenas revirou os olhos com um desdém venenoso. "Vaza, pirralho de merda! Isso não é brincadeira de criança!" Ele cuspiu as palavras, descartando Rito como um incômodo insignificante. Seu foco voltou-se furiosamente para Mio, o braço já em movimento descendente, um arco brutal destinado a silenciá-la de uma vez por todas, a força suficiente para fraturar.
Não houve tempo para estratégia, apenas para ação pura. Impulsionado por uma onda de fúria glacial e protetora que anulou qualquer vestígio de sua antiga hesitação, Rito se lançou. Dois passos largos, poderosos, impulsionados por pernas que agora abrigavam uma força desconhecida. Ele não atacou com um soco. Seu braço direito disparou como um pistão, a mão aberta transformando-se em uma garra de aço. Fechou-se com precisão cirúrgica em torno do pulso do homem, exatamente no momento em que o punho atingia o ápice de seu arco destrutivo, a centímetros do rosto aterrorizado de Mio.
O impacto foi visceral. Um CRACK! seco, nítido como o estalar de um galho grosso, ecoou no beco confinado. Seguiu-se um grito agudo de dor, um som animal e desesperado que rasgou o ar. Rito não havia golpeado; ele havia parado o braço em pleno movimento, congelando-o no ar. A força que emanou de seu aperto foi tão repentina, tão avassaladora, que fez o homem dobrar-se para a frente como um fantoche com os fios cortados, o rosto uma máscara grotesca de choque e agonia indescritível. Sua mão, agora inerte e trêmula, pendia inútil.
"Se afaste dela!" A voz de Rito era baixa, mas carregada de uma autoridade de aço, uma vibração profunda que parecia fazer o ar tremer. O frio de sua raiva contrastava com o calor da adrenalina que queimava em suas veias. "Ela. Já. Disse. NÃO!"
Rito tentou apenas empurrar o braço do homem para longe de Mio, mantendo a pressão constante. Sem qualquer esforço consciente, sem a tensão visível de músculos forçados ao limite, seu braço se moveu. Ele ergueu o braço do agressor – e com ele, todo o corpo do homem – alguns centímetros do chão, como se estivesse levantando um saco de lixo leve, não um adulto resistente e cheio de ódio.
Rito congelou por um microssegundo, seus próprios olhos arregalando-se de puro espanto. "O que…? Como…?" Não foi uma sensação de músculos tensionados; foi como se uma corrente subterrânea de energia, tivesse fluído sob sua pele, respondendo instantaneamente ao seu comando interno. Era assustador. Era… fácil.
Assustado com a monstruosidade da própria força, Rito soltou o pulso como se tivesse tocado em brasa.
O agressor desabou de joelhos com um baque surdo, um grito rouco escapando de sua garganta enquanto agarrava o pulso direito com a mão esquerda, contorcendo-se em agonia. Mesmo na penumbra, a marca era horrivelmente visível: onde os dedos de Rito haviam pressionado, a pele estava esmagada, uma impressão digital profunda de um vermelho-violáceo que rapidamente inchava, delineando com perfeição mórbida o contorno de uma mão poderosa. Parecia que sua carne havia sido moldada em argila mole por uma força titânica.
"Seu… seu maldito MONSTRO!" O homem cuspiu, o ódio em seus olhos pequenos superando a dor lancinante. A surpresa inicial transformara-se em fúria assassina. Ignorando o pulso que latejava como um coração exposto, ele se levantou com um grunhido bestial, o rosto contraído em uma careta de pura malignidade. "VOU ACABAR COM VOCÊ!"
Ele se lançou para frente, um vulto desengonçado mas carregado de intenção homicida. O soco veio com a mão esquerda, desajeitado pela dor e pela raiva, mas ainda assim rápido e pesado, direto ao rosto de Rito. Rito não pensou. Seu corpo reagiu. Movimentou-se com uma economia de esforço graciosa e mortal: uma ligeira inclinação do tronco para o lado esquerdo, um movimento fluido e minimalista que desviou seu corpo do caminho do punho como uma folha ao vento. O punho do homem passou a centímetros de seu nariz, cortando o ar com um assobio sinistro.
Rito ficou atônito. "Tão… lento?" Os movimentos do agressor, que momentos antes pareciam relâmpagos de violência, agora desenrolavam-se diante de seus olhos como em um sonho lento e viscoso. Cada contração muscular, cada microexpressão de ódio em seu rosto, a trajetória previsível do golpe – tudo era claro como cristal. Sua percepção temporal havia se dilatado, acelerando exponencialmente. O mundo ao seu redor parecia nadar em melaço, enquanto sua mente processava tudo com clareza assustadora.
Mio, encostada na parede fria e úmida, observava com os olhos arregalados como luas cheias, a boca ligeiramente aberta em um "O" de choque silencioso. "Y-Yuuki…?" O sussurro escapou-lhe como um suspiro rouco, ecoando a completa incompreensão que dominava seus pensamentos. O Rito desajeitado, a lenda ambulante das quedas acidentais, movia-se com a elegância letal de um predador de alto nível.
O agressor, mais enfurecido do que nunca pelo desvio fácil, recuou um passo, ofegante. Seus olhos escuros, cheios de uma inteligência animalesca e perversa, vasculharam rapidamente as sombras profundas ao redor. Rito viu o momento exato em que a decisão foi tomada, viu a mão direita (ainda trêmula de dor) mergulhar sob a jaqueta surrada e suja. O reflexo fraco e mortal do metal capturou a luz residual – o único aviso antes que a lâmina curta, afiadíssima e sem brilho de uma faca de combate aparecesse em sua mão, uma extensão natural de sua malícia.
"Vou te rasgar, seu merdinha inútil!" O grito era um rosnado de animal ferido e encurralado. Ele avançou novamente, mais rápido desta vez, a faca descrevendo um arco rápido e mortal em direção ao abdômen de Rito, uma estocada baixa e traiçoeira destinada a eviscerar.
O medo – um medo frio e primitivo – agarrou Rito pela garganta. Uma faca. Era real. Era final. Mas então, aquele estado estranho, varreu o pânico. O mundo desacelerou ainda mais. Ele via a trajetória da lâmina como uma linha brilhante no ar, o tremor no pulso do homem causado pela dor e pela tensão, o ponto exato onde seu peso se deslocava para o golpe. Rito não saltou para trás; executou uma rotação suave e precisa no eixo do corpo, uma pirueta de morte evitada. A lâmina passou rente ao tecido de sua camisa escolar, cortando o ar onde seu estômago estivera um instante antes, o frio do metal quase palpável em sua pele.
A facilidade com que evitou o golpe mortal foi tão chocante quanto a força demonstrada antes. O agressor, desequilibrado pelo golpe no vazio e pela velocidade do desvio de Rito, vacilou para frente, um grunhido de frustração escapando-lhe.
Rito não esperou. O instinto de sobrevivência e o desejo ardente de proteger Mio fundiram-se em um único impulso. Enquanto o homem ainda lutava para recuperar o equilíbrio, Rito avançou. Não com um soco espetacular, mas com um movimento rápido, econômico e mortalmente eficiente. Sua mão direita projetou-se como uma cobra, os dedos estendidos e rígidos como uma adaga, atingindo com precisão cirúrgica um ponto específico na base do pescoço do homem, logo acima da clavícula esquerda.
Foi um golpe seco, quase silencioso. Não houve força bruta ostensiva, apenas velocidade pura e conhecimento anatômico aplicado.
O efeito foi instantâneo e total. Os olhos do agressor reviraram, mostrando apenas o branco leitoso. Um som gutural, um ronco de ar sendo expulso de pulmões, escapou de sua garganta antes que seu corpo inteiro desabasse como um fardo pesado e inerte no chão sujo do beco. A faca escapou de sua mão inerte e caiu com um tilintar metálico que ecoou na quietude repentina.
Silêncio.
O som pesado e ofegante da respiração de Mio encheu o vácuo deixado pela violência. Rito ficou parado, imóvel, olhando para o homem desmaiado a seus pés, depois para sua própria mão, como se pertencesse a um estranho. A adrenalina ainda latejava nele como uma corrente elétrica, misturada com uma onda avassaladora de náusea e uma incredulidade profunda. "Eu… eu nocauteei alguém? Com um golpe?" A mão que segurara o pulso, que desferira o golpe, tremia levemente, não de fraqueza, mas da descarga violenta de energia e emoção.
"Y-Yuuki…" A voz de Mio, mais um suspiro trêmulo do que propriamente palavras, quebrou o feitiço.
Ele se virou para ela. Ela ainda estava encostada na parede, pálida como o mármore, tremendo visivelmente de cabeça aos pés, seus olhos ainda enormes com o choque residual, mas agora fixos nele com uma intensidade avassaladora – um turbilhão de alívio tão profundo que beirava o desespero, misturado com uma perplexidade absoluta e… algo mais. Algo quente e incômodo.
Sem hesitar, Rito estendeu a mão. "Sawada! Vamos sair daqui! Agora!" Sua voz era firme, urgente, o tom de comando estranho em seus próprios ouvidos, mas necessário.
Ela olhou para sua mão estendida, depois para seu rosto – aquele rosto familiar, mas agora marcado por uma determinação feroz e uma estranha serenidade que ela nunca vira. Então, com um pequeno soluço que foi quase um choro abafado, ela agarrou sua mão com uma força desesperada. Sua mão estava gelada, os dedos trêmulos como folhas ao vento, mas o aperto era de vida ou morte.
Rito puxou-a suavemente, mas com firmeza inabalável, afastando-a do corpo inerte e das sombras ameaçadoras que pareciam se alongar para agarrá-las. Eles correram. Rito liderando, puxando Mio pela mão, seus passos firmes ecoando no asfalto enquanto emergiam da escuridão asfixiante do beco para a claridade reconfortante do do luar na rua principal. Ele não olhou para trás. Seu único foco era colocar quilômetros entre eles e aquele pesadelo, entre Mio e o perigo que a ameaçara.
Enquanto corriam, lado a lado, a mão de Mio firmemente enclavinhada na de Rito, algo fundamental começou a mudar dentro dela. O medo, ainda presente como um gosto amargo e metálico na boca, começou a ser lentamente suplantado por outra sensação, mais complexa, mais quente, mais perigosa. Ela olhou para suas mãos unidas. A mão de Rito era significativamente maior que a dela, quente, firme, envolvendo a dela com uma força protetora que era ao mesmo tempo inesperada e profundamente reconfortante. Sentia os contornos de seus dedos, a textura ligeiramente áspera de sua pele, o pulso forte batendo sob sua palma. Uma onda de calor, começando em seu estômago, subiu pelo peito, inundando seu rosto com um rubor tão intenso que ela sentiu que podia iluminar a rua. Seu coração, que batia acelerado pelo terror, agora acelerava por um motivo completamente diferente, martelando contra suas costelas como um tambor desgovernado. "Por que… por que isso está acontecendo agora?" O pensamento surgiu, confuso e assustador. Mio podia provocar Rito jundo de Risa sem piedade na escola, rir de suas desventuras. Mas naquele momento, segurando sua mão depois de tê-la resgatado de um perigo visceral e real, ela não era a rainha provocadora. Era apenas uma garota, vulnerável, assustada e profundamente, inexplicavelmente afetada pela presença repentinamente heróica e poderosa do garoto que sempre considerara desastrado.
Eles correram por mais um quarteirão, até que Rito julgou seguro diminuir o passo, finalmente parando sob a luz mais suave e acolhedora de uma rua residencial tranquila, longe dos olhares curiosos. Ele soltou um suspiro profundo, dobrando-se levemente para colocar as mãos nos joelhos, tentando domar a respiração ofegante. Mio parou ao seu lado, ainda segurando sua mão por um instante mais longo do que o necessário antes de perceber e soltá-la abruptamente, como se tivesse tocado em fogo, escondendo as mãos atrás das costas, os dedos ainda formigando com o eco do contato.
Rito endireitou-se, virando-se para encará-la, seu rosto ainda marcado pela sombra da preocupação. "Sawada! Você… você está bem?" Seus olhos, agora de volta ao tom marrom habitual, mas ainda com um resíduo daquela intensidade estranha, percorreram seu rosto com cuidado, procurando por hematomas, arranhões, qualquer sinal de violência. Depois desceram, varrendo seu corpo rapidamente, buscando rasgos no uniforme, marcas de luta.
Mio evitou seu olhar por um momento, fixando os olhos no padrão das lajotas da calçada. Seu rosto ainda estava em chamas, o rubor se estendendo até as pontas das orelhas. "E-Eu… eu estou bem" ela murmurou, sua voz um pouco mais estável, mas ainda carregada de uma vulnerabilidade que era rara. "Só… só um pouco abalada. Ele me puxou com força, me encurralou… mas não me bateu…" Ela fez uma pausa, engolindo em seco antes de finalmente levantar os olhos para encontrá-los. "…graças a você." A gratidão naquela frase era espessa, palpável. "Você… você apareceu na hora certa, Yuuki. Na hora exata."
Ela o observou, realmente o observou, talvez pela primeira vez sem a lente distorcida da provocação. Uma semana. Apenas uma semana desde que o vira pela última vez na escola. Mas o garoto diante dela parecia… diferente. Seu corpo agora estava musculoso e definido e alteração fundamental estava em sua postura. Menos curvado, menos propenso a tropeçar no próprio ar. Mais ereto, mais presente, mais… alerta. Os olhos, normalmente cheios de ansiedade nervosa ou constrangimento profundo, agora tinham um resíduo de uma determinação feroz que ela nunca testemunhara antes. E os músculos… ela podia vê-los sob a camisa escolar branca, delineados não com a volumosidade exagerada de um halterofilista, mas com uma definição tensa, sinuosa, como cordas de aço sob tensão, sugerindo uma força explosiva contida. "Você…" ela começou, sua voz tomada por uma curiosidade genuína que superava o constrangimento. "Você mudou muito em apenas uma semana, Yuuki. Você… você está bem forte. Muito forte. E rápido. Eu… eu nunca vi nada assim." A admiração, involuntária, tingia suas palavras.
Rito ficou instantaneamente constrangido. O sangue correu para o seu rosto com uma velocidade vertiginosa, apagando momentaneamente a seriedade da situação e trazendo de volta um vislumbre do garoto desajeitado que ela conhecia. Ele esfregou a nuca, um gesto familiar, desviando o olhar para um poste de luz próximo. "Ah… isso? Foi… foi sorte, eu acho. Adrenalina pura. Eu… eu nem sabia que podia fazer essas coisas." A lembrança do pulso esmagado sob seus dedos, da facilidade assustadora com que erguera e depois nocauteou um homem adulto, voltou com força, trazendo um novo desconforto e uma ponta de medo de si mesmo. Ele sabia, que não era apenas adrenalina. Algo tinha mudado. Radicalmente.
Mio viu o rubor dele, a desconcertante timidez que voltava como uma maré depois da demonstração de força quase sobre-humana. Um pequeno sorriso – não o sorriso provocador, que ela dominava, mas um sorriso genuíno, quase tímido, que lhe suavizava os traços – tocou seus lábios. Era um contraste fascinante, e estranhamente… cativante. "Sortudo ou não" ela disse, sua voz recuperando um fio de sua familiaridade, mas sem a borda afiada de antes, "você me salvou, Yuuki Rito. E eu…" Ela fez uma pausa, olhando-o diretamente nos olhos, "…eu não esquecerei isso."
Ela olhou para o céu rapidamente, depois para a direção da sua casa, algumas quadras adiante. Uma ideia se formou, impulsionada pela gratidão, pelo alívio e por uma confusão emocional que exigia distração. "Olha…" ela começou, hesitante, voltando a olhar para ele. "Meus pais estão viajando. A semana toda. Estou sozinha em casa." Ela viu um leve pânico se formando no olhar do Rito.
"É só… eu queria te agradecer de verdade. Por ter aparecido. Por ter… feito o que fez." Ela fez uma pausa, procurando as palavras certas, evitando olhar diretamente para ele. "Que tal… você me acompanhar até em casa? É pertinho. E… e você podia entrar. Só por um minuto. Eu faço um chá. Ou… ou algo para comer. É o mínimo que posso fazer." A oferta era estranhamente vulnerável, vinda dela.
A sugestão, feita com uma sinceridade que soava genuinamente diferente da Mio habitual, pegou Rito completamente desprevenido. Mas então, como um raio, a memória atingiu-o com força total. Uma situação familiar. Ele levando Risa para casa. Ela convidando-o para entrar porque estava "sozinha". A provocação. O constrangimento interminável. O rosto de Rito ficou ainda mais vermelho, se possível, atingindo um tom de beterraba madura. "E-Eu… eu não sei, Sawada" ele gaguejou, recuando um passo involuntário, como se a porta da casa dela fosse uma armadilha. "É… é melhor não. Eu realmente preciso ir para casa. Minha irmã…" A desculpa embora verdadeira, soou falsa e fraca até para seus próprios ouvidos. "Ela deve estar preocupada."
Mio franziu o cenho. Aquele Rito hesitante e desajeitado ela conhecia bem. Mas depois do que ele acabara de fazer – depois de tê-la salvo com aquela força e velocidade sobrenaturais –, a recusa sentiu-se como uma rejeição ao seu agradecimento sincero. Um lampejo da velha Mio, irrompeu através do véu de vulnerabilidade. "Ah, não!" ela disse, avançando um passo decidido, as mãos firmemente nos quadris em uma postura desafiadora que lhe era tão característica. "Você não vai embora assim! Eu não vou deixar você ir sem pelo menos tentar te agradecer direito! Depois do que aconteceu… depois do que você fez…" Ela não precisou terminar a frase. A imagem do beco escuro, do homem com olhos de predador, do reflexo mortal da faca, pairava pesadamente no ar entre eles.
Rito abriu a boca para protestar novamente, para inventar outra desculpa frágil. Mas antes que uma única sílaba pudesse sair, Mio agiu. Impulsionada por uma tempestade de emoções – gratidão avassaladora, alívio puro, a confusão dos sentimentos novos e desconhecidos que fervilhavam dentro dela, e um desejo impulsivo, quase desesperado, de romper a tensão e fazer algo –, ela fechou a distância entre eles em dois passos rápidos. Esticando-se na ponta dos pés, ela aproximou seu rosto ainda corado do dele, o cheio do seu suor leve e do perfume discreto que usava invadindo seus sentidos. Rito congelou completamente, seus olhos arregalando-se como pratos, o corpo tenso como uma corda de arco.
Ela Não foi até seus lábios. Com uma rapidez que deixou Rito sem fôlego e a si mesma em pânico, ela pressionou seus lábios macios e surpreendentemente quentes firmemente contra sua bochecha esquerda. Foi um beijo rápido, quase brusco, mas carregado de uma intensidade emocional que transcendia a brevidade – gratidão profunda, alívio vertiginoso, e algo mais, indefinido e quente, que a assustou.
O contato durou menos de dois segundos, mas funcionou como um choque elétrico de alta voltagem para ambos.
Mio recuou imediatamente, saltando para trás como se tivesse tocado em uma chapa quente. Seu rosto era uma máscara de puro escarlate, o rubor tão intenso que parecia irradiar calor. Ela nem mesmo ousou olhar para ele. "T-Tchau, Rito!" Sua voz saiu em um sopro agudo, estrangulado pelo constrangimento e por algo muito próximo do pânico. "Até amanhã! E… obrigada! Obrigada mesmo pela ajuda!"
Ela se virou e disparou em direção ao portão de uma casa a poucos metros dali, enfiando a chave na fechadura com mãos visivelmente trêmulas. A porta se abriu, ela desapareceu dentro como um coelho assustado, e a porta se fechou atrás dela com um click final e decisivo.
Rito ficou plantado no meio da calçada, imóvel como uma estátua de sal atingida por um raio. O mundo ao seu redor – o farfalhar de uma folha ao vento, o latido distante de um cachorro, o cheiro da terra úmida – desapareceu. Toda a sua realidade se condensou em um único ponto ardente em sua bochecha esquerda. O epicentro onde os lábios macios e quentes de Mio Sawada haviam tocado. Ele lentamente, com uma lentidão quase ritualística, levantou a mão direita e tocou o local com as pontas dos dedos, sentindo a pele ligeiramente mais quente ali. Seus dedos tremiam levemente. Era real. Estava quente. Um rubor profundo, que rivalizava e talvez superasse o de Mio, subiu do seu pescoço, inundando seu rosto e orelhas com uma onda de fogo. Seu coração batia com uma força descomunal, como se quisesse escapar da gaiola óssea do seu peito e declarar seu espaço ao mundo. Sawada me beijou? Na bochecha? Mio SAWADA? O pensamento era absurdo, surreal, quase cômico em sua improbabilidade. A garota que o provocava junto de Risa implacavelmente, tinha lhe dado um beijo. De gratidão? Certamente. Mas o calor, a rapidez, o rubor nuclear dela, a fuga desesperada… parecia indicar algo mais. Algo que o deixou profundamente confuso e inquieto.
Ele permaneceu assim por longos segundos, uma figura solitária e perplexa sob o crepúsculo que se aprofundava, a mão ainda na bochecha, o mundo lentamente se recompondo ao seu redor. A lembrança da luta brutal no beco, de sua força inexplicável e assustadora, parecia desbotar, ofuscada pela intensidade avassaladora daquele toque fugaz e quente na sua pele. Finalmente, com um último olhar confuso e perturbado para a porta fechada da casa de Mio, ele se virou e começou a caminhar em direção à sua própria casa, seus passos lentos e pensativos, sua mente um caótico campo de batalha onde força recém-descoberta, perigo mortal evitado e o fantasma de um beijo que prometia mudar tudo lutavam por supremacia.
Dentro da Casa de Mio...
Mio encostou as costas com força contra a porta fechada, como se pudesse fundir-se com a madeira sólida e fria. A escuridão acolhedora do hall de entrada a envolveu, mas ela mal a registrou. Seus olhos estavam fixos no vazio do corredor, ainda vendo a imagem nítida de Rito parado sob o poste de luz, tocando a bochecha com uma expressão de choque absoluto. Seu coração martelava contra o peito com uma força selvagem, tão alto e rápido que ecoava em seus ouvidos – BANG! BANG! BANG! – como um tambor de guerra descontrolado. Ela temia que os vizinhos pudessem ouvir, ou pior, que o próprio Rito, do lado de fora, ainda pudesse sentir as vibrações.
O rosto dela estava em chamas. Ela levantou as mãos – ainda trêmulas, mas agora de emoção, não de medo – e tocou as próprias bochechas. Estavam quentes, quase febril. O rubor era tão intenso que pulsava sob a pele, uma marca de fogo. "O que eu fiz? O que EU FIZ?" O pensamento gritou em sua mente, misturado com os ecos ainda frescos do beco sombrio. "Eu beijei o Yuuki! Eu beijei o Yuuki Rito! Na RUA!"
A cena se repetia em sua mente em um loop frenético e implacável: a sensação inesperadamente áspera da pele de sua bochecha sob seus lábios, o cheiro limpo de seu uniforme escolar misturado com um aroma indefinível que era puramente ele, a expressão de choque absoluto, quase cómico, em seus olhos quando ela recuou. Não foi um beijo romântico. Foi impulsivo, caótico, movido pela tempestade de emoções – a gratidão esmagadora por tê-la resgatado das garras daquele monstro, o alívio vertiginoso de estar segura, a confusão avassaladora de ver o desajeitado e inofensivo Rito se transformar em uma força da natureza ágil e letal, e aquele estranho, intenso calor que percorreu seu corpo quando suas mãos se uniram com força no beco.
"Idiota! Idiota! Idiota!" Ela sussurrou para a escuridão, escondendo o rosto nas mãos, embora não houvesse ninguém para vê-la. O constrangimento era uma onda sufocante, pesada. "Como eu vou olhar para ele na escola amanhã? Como ELE vai me olhar? Será que ele pensa que eu… que eu gosto dele?" O pensamento a fez estremecer, não de repulsa, mas de um pânico renovado e profundo. Ela e Risa provocava Rito. Ela o achava um pervertido desajeitado, um alvo fácil para suas brincadeiras. Era assim que as coisas eram. Era seguro. Era familiar. Era o equilíbrio do seu mundo.
Mas agora… agora havia o beijo. E havia a memória vívida de sua mão grande e quente segurando a dela com uma força protetora que a fez sentir-se pequena e segura ao mesmo tempo. A imagem nítida dele se movendo com aquela velocidade impossível, parando o braço de um homem adulto como se fosse um graveto, esmagando seu pulso com facilidade aterradora, desviando de uma faca como se estivesse dançando. A frieza e a determinação absoluta em seus olhos quando ele ordenou "Se afaste dela!". Nada disso se encaixava no Rito que ela conhecia e catalogara. Era como se uma máscara tivesse caído, ou um véu tivesse sido rasgado, revelando alguém completamente diferente, alguém perigosamente atraente, sob a fachada desastrada. E ela tinha beijado essa pessoa desconhecida.
Ela deslizou pela porta até sentar no chão frio do hall, abraçando os joelhos contra o peito. A adrenalina do perigo real estava diminuindo, deixando para trás uma fadiga óssea e uma confusão emocional ainda mais profunda e perturbadora. O medo do que poderia ter acontecido no beco se Rito não tivesse aparecido – as imagens horríveis que sua mente criava – misturava-se com o calor persistente no rosto e o eco fantasmagórico do beijo. A marca vermelha, quase roxa, no pulso do agressor… a facilidade assustadora com que Rito o derrubou… "O que aconteceu com ele nessa semana naquela mansão?"
Mio enterrou o rosto nos joelhos, um gemido baixo escapando de seus lábios. O caminho para a escola na manhã seguinte parecia uma jornada através de um campo minado emocional. Mas uma coisa ela sabia, com uma certeza que a aterrorizava e a excitava em igual medida: nada seria igual entre ela e Yuuki Rito. O beijo na bochecha, dado no calor do momento e na confusão do alívio, havia sido um ponto de não retorno. Abrira uma porta para um território desconhecido e perigosamente tentador que ela não estava nem um pouco preparada para explorar. E, no fundo, sob as camadas espessas de constrangimento, negação e pânico, um pequeno, minúsculo, teimoso ponto de calor persistia, insistindo em lembrá-la do contato fugaz e do garoto que, por um momento decisivo, foi inegavelmente, poderosamente, seu herói.
Caminho para Casa de Rito...
Rito caminhava pelas ruas agora banhadas pela luz amarelada dos postes, mas o mundo parecia desfocado, como visto através de um vidro embaçado. O ponto em sua bochecha onde Mio o beijara ainda pulsava, um farol físico que ancorava sua consciência em meio ao turbilhão de pensamentos conflitantes. A luta no beco parecia um sonho febril e violento – a força descomunal e assustadora que jorrou de suas mãos, a lentidão surreal dos movimentos do agressor, o nocaute limpo e eficiente. A lembrança do pulso esmagado sob seus dedos, da facilidade com que levantou um homem adulto, trouxe uma onda de náusea que ele engoliu com força. "Que força foi essa? foi por causa da Darkness?"
Ele olhou para suas mãos enquanto caminhava, virando-as sob a luz dos postes. Eram as mesmas mãos que derrubavam xícaras de chá, que causavam acidentes embaraçosos com garotas, que tremiam de nervosismo. Hoje, elas haviam sido ferramentas de proteção… e de uma violência assustadora. O que aconteceria se ele perdesse o controle dessa força? O medo de si mesmo era um peso frio em seu estômago.
Mas a preocupação com sua força anormal foi temporariamente ofuscada pela lembrança muito mais imediata e perturbadora: o beijo de Mio. O contato rápido, inesperado, quente. O rosto escarlate dela fugindo como um cervo assustado. "Por que ela fez isso? Gratidão, claro. Mas havia algo mais naquele rubor, na fuga apressada? O que isso significaria para suas interações diárias? Para o equilíbrio já precário de sua vida escolar?"
Ele tocou a bochecha novamente. O calor parecia ter se infiltrado em suas veias. "Como vou encará-la amanhã?" O constrangimento era uma mão gelada em seu pescoço. Ela ia usar isso contra ele? Provocá-lo ainda mais, transformando o beijo em uma arma? Ou… ou seria diferente? A expressão dela quando o viu no beco – o choque misturado com admiração –, o olhar dela quando disse que ele mudou… havia algo novo ali. Algo que ele não conseguia decifrar, mas que o deixou estranhamente agitado.
Ao se aproximar de sua casa, vendo a luz aconchegante e familiar da sala de estar brilhar através da janela, uma nova camada de ansiedade se sobrepôs, mais espessa e familiar.
Ele parou diante do portão familiar, respirando fundo. A noite estava quente, mas um calafrio percorreu sua espinha.
Sua vida já era um equilíbrio precário sobre um vulcão de princesas alienígenas, assassinas galácticas, cientistas provocadoras e acidentes de queda cósmicos.
Agora, havia força inexplicável e potencialmente perigosa e um beijo de Mio Sawada carregado de consequências imprevisíveis. O mundo de Yuuki Rito, já um epicentro de caos cósmico e constrangimento terreno, tinha virado de cabeça para baixo mais uma vez, e a queda parecia interminável.
Enquanto ele empurrava o portão com uma mão que ainda guardava o eco da força brutal e o fantasma do toque suave, a única certeza que tinha era que amanhã traria novos desafios, novos constrangimentos exponencialmente maiores e, muito provavelmente, mais perguntas assustadoras do que respostas reconfortantes. A marca na bochecha ardia, um lembrete silencioso e inescapável de que algumas linhas, uma vez cruzadas – seja pela força das sombras ou pelo calor de um beijo impulsivo –, nunca, jamais, poderiam ser apagadas.
O caminho de volta à qualquer ilusão de normalidade parecia ter desaparecido na escuridão do beco, junto com o homem que ele derrubara.
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mais uma ficando gamadinha
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